Om Mani Padme Hum

10/07/2010 18:46

Tal com AVALOKITESHVARA desce no mundo, e como cada raio de sua compaixão é semelhante a uma mão auxiliadora estendida aos que necessitam de ajuda, assim cada sílaba do seu mantra está repleta com a força e a devoção do seu amor. Por isto é perfeitamente natural que as seis sílabas sagradas estejam concebidas em justaposição às seis esferas, de cujos sofrimentos elas são os meios de socorrer, liberando os seres das suas ilusões e apegos. Para os que se abrem à força do mantra, isto é, para os que não só acreditam na sua eficácia, mas os que preenchem com a força da sua própria devoção, não é suficiente guardar em mente, somente a sua própria salvação, mas precisam igualmente serem movidos pelo desejo de contribuir para as possibilidades de liberação de todos os outros seres viventes.

Devido a esta razão, o Sádhaka - após ter percorrido os vários planos e etapas da realidade espiritual, contidos no mantra - volta sua mente para as diferentes classes de seres, e enquanto pronuncia uma das seis sílabas sagradas, dirige a sua atenção à uma destas seis esferas.

Assim, cada sílaba torna-se um veículo para a realização da força compassiva de AVALOKITESHVARA, e ao mesmo tempo o Sádhaka torna-se consciente da natureza insatisfatória de cada um destes estados de existência. Por isto se diz que, quando se recita a fórmula sagrada com o coração sincero, isto não pode ser somente uma bênção para todos os seres viventes, mas pode ao mesmo tempo fechar os portais do renascimento naquelas esferas para o Sádhaka. Porque estados de existência, que originaram nossa compaixão, perderam seu atrativo para nós, por maior que nossa simpatia possa ser. Daquilo que nós queremos libertar os outros, não pode ser mais para nós, objeto de desejo.

Desse modo, enquanto proferimos OM, dirigimos nossa mente para o mundo dos deuses, que estão emaranhados na ilusão da sua própria permanência e perfeição; enquanto abrindo para eles os portais da liberação pelo poder deste mantra, fechamos para nós mesmos a entrada nesta esfera de renascimento.

De modo similar, nós dirigimos nossa mente para os seres das outras esferas: enquanto proferimos MA para os mundos dos Asuras que, levados pela inveja, estão empenhados numa luta perpétua contra as forças da luz; enquanto proferimos NI para o mundo dos homens, que estão cegos pelo conceito do ego; enquanto proferimos PA, dirigimos nossa mente para a esfera dos animais, impelidos na escuridão e na inércia espiritual; enquanto proferimos DME, nós a dirigimos para os espíritos famintos do mundo dos Pretas; enquanto proferimos HUM, enviamos nossos pensamentos compassivos para todos os seres que suportam torturas infernais nos abismos mais profundos da existência.

Assim, OM MANI PADME HUM corporifica a mensagem feliz da liberação, do amor para todos os seres viventes, e do Caminho que conduz à realização final. Proferindo estas sílabas sagradas com toda sinceridade e com toda consciência do seu significado, a figura do Sádhaka, transforma seu corpo mortal no Nirmánakáya de AVALOKITESHVARA e preenche sua mente com a luz infinita de AMITHÁBA. Assim, os horrores de Samsára se transformam nos sons de seis sílabas. Por isto está dito no Bardo Thodol que, no momento do Grande Reconhecimento, no estado intermediário entre a morte e o renascimento, o som primordial da realidade ressoa como milhares de trovões, pode acontecer dele se transformar no som das Seis Sílabas.

***Transcrito de FUNDAMENTOS DO MISTICISMO TIBETANO***
***do Lama Anagarika ***

Voltar