Pequena Alma e o Sol

31/07/2010 23:31

Era uma vez, em tempo nenhum, uma
Pequena Alma que disse a Deus:
- Eu sei quem sou!
E Deus disse: - Que bom! Quem é você?
E a Pequena Alma gritou: - Eu sou Luz
E Deus sorriu. - É isso mesmo! - Exclamou Deus. - Você é Luz!
A Pequena Alma ficou muito contente, porque tinha descoberto aquilo que todas as almas do Reino deveriam descobrir.
- Uauu, isto é mesmo bom! - Disse a Pequena Alma.
Mas, passado pouco tempo, saber quem era já não lhe chegava. A pequena Alma sentia-se agitada por dentro, e agora queria ser quem era. Então foi falar com Deus (o que não é má ideia para qualquer alma que queira ser Quem Realmente É) e disse:
- Olá Deus! Agora que sei Quem Sou, posso sê-lo?
E Deus disse:
- Quer dizer que quer ser Quem já És?
- Bem, uma coisa é saber Quem Sou, e outra coisa é sê-lo mesmo. Quero sentir como é ser a Luz! - respondeu a pequena Alma.
- Mas você já é Luz - repetiu Deus, sorrindo outra vez.
- Sim, mas quero senti-lo! - gritou a Pequena Alma.
- Bem, acho que já era de esperar. Você sempre foi aventureira - disse Deus com uma risada. Depois a sua expressão mudou.
- Só que há uma coisa...
O quê? - perguntou a Pequena Alma.
- Bem, não há nada para além da Luz. Porque eu não criei nada para além daquilo que você é; por isso, não vai ser fácil experimentar-se como Quem É, porque não há nada que você não seja.
- Hã? - disse a Pequena Alma, que já estava um pouco confusa.
- Pense assim: você é como uma vela ao Sol. Está lá sem dúvida. Você e mais milhões, ziliões de outras velas que constituem o Sol. E o Sol não seria o Sol sem vocês. "Não seria um sol sem uma das suas velas... e isso não seria de todo o Sol, pois não brilharia tanto. E no entanto, como pode conhecer-se como a Luz quando está no meio da Luz - eis a questão".
- Bem, você é Deus. Pense em alguma coisa! - disse a Pequena Alma mais animada.
Deus sorriu novamente.
- Já pensei. Já que não pode se ver como a Luz quando está na Luz, vamos rodea-la de escuridão - disse Deus.
- O que é a escuridão? perguntou a Pequena Alma.
- É aquilo que você não é - replicou Deus.
- Eu vou ter medo do escuro? - choramingou a Pequena Alma.
- Só se escolherer. Na verdade não há nada de que deva ter medo, a não ser que assim o decida. Porque estamos inventando tudo. Estamos fingindo.
- Ah! - disse a Pequena Alma, sentindo-se logo melhor.

Depois Deus explicou que, para se experimentar o que quer que seja, tem de aparecer exatamente o oposto.
- É uma grande dádiva, porque sem ela não poderíamos saber como nada é - disse Deus - Não poderíamos conhecer o Quente sem o Frio, o Alto sem o Baixo, o Rápido sem o Lento. Não poderíamos conhecer a Esquerda sem a Direita, o Aqui sem o Ali, o Agora sem o Depois. E por isso, - continuou Deus -quando estiver rodeada de escuridão, não levante o punho nem a voz para amaldiçoar a escuridão.
"Seja antes uma Luz na escuridão, e não fique furiosa com ela. Então saberá Quem Realmente É e os outros também o saberão. Deixe que a sua Luz brilhe tanto que todos saibam como você é especial!"
- Então posso deixar que os outros vejam que sou especial? - perguntou a Pequena Alma.
- Claro! - Deus riu. - Claro que pode! Mas lembre-se de que "especial" não quer dizer "melhor"! Todos são especiais, cada qual à sua maneira! Só que muitos esqueceram-se disso. Esses apenas vão ver que podem ser especiais quando você ver que pode ser especial!
- Uau - disse a Pequena Alma, dançando e saltando e rindo e pulando. - Posso ser tão especial quanto quiser!
- Sim, e pode começar agora mesmo - disse Deus, também dançando, saltando, rindo e pulando juntamente com a Pequena Alma - Que parte de especial é que quer ser?
- Que parte de especial? - repetiu a Pequena Alma. - Não estou entendendo.
- Bem, - explicou Deus - ser a Luz é ser especial e ser especial tem muitas partes. É especial ser bondoso. É especial ser delicado. É especial ser criativo. É especial ser paciente. Conhece alguma outra maneira de ser especial?
A Pequena Alma ficou em silêncio por um momento.
- Conheço imensas maneiras de ser especial! - exclamou a Pequena Alma - É especial ser prestativa. É especial ser generosa. É especial ser simpática. É especial ser atenciosa com os outros.
- Sim! - concordou Deus - E você pode ser todas essas coisas, ou qualquer parte de especial que queira ser, em qualquer momento. É isso que significa ser a Luz.
- Eu sei o que quero ser, eu sei o que quero ser! - falou a Pequena Alma com grande entusiasmo. - Quero ser a parte especial chamada "perdão". Não é ser especial alguém que perdoa?
- Ah, sim, isso é muito especial, assegurou Deus à Pequena Alma.
- Está bem. É isso que eu quero ser. Quero ser alguém que perdoa. Quero experimentar-me assim - disse a Pequena Alma.
- Bom, mas há uma coisa que deve saber - disse Deus.
A Pequena Alma já começava a ficar um bocadinho impaciente. Parecia haver sempre alguma complicação.
- O que é? - suspirou a Pequena Alma.
- Não há ninguém a quem perdoar.
- Ninguém? A Pequena Alma nem queria acreditar no que tinha ouvido.
- Ninguém! - repetiu Deus. Tudo o que Eu fiz é perfeito. Não há uma única alma em toda a Criação menos perfeita do que você. Olhe à sua volta.

Foi então que a Pequena Alma reparou na multidão que se tinha aproximado. Outras almas tinham vindo de todos os lados - de todo o Reino - porque tinham ouvido dizer que a Pequena Alma estava tendo uma conversa extraordinária com Deus, e todas queriam ouvir o que eles estavam dizendo.
Olhando para todas as outras almas ali reunidas, a Pequena Alma teve de concordar. Nenhuma parecia menos maravilhosa, ou menos perfeita do que ela. Eram de tal forma maravilhosas e a sua Luz brilhava tanto, que a Pequena Alma mal podia olhar para elas.
- Então, perdoar quem? - perguntou Deus.
- Bem, isto não vai ter graça nenhuma! - resmungou a Pequena Alma - Eu queria experimentar-me como Aquela que Perdoa. Queria saber como é ser essa parte de especial.
E a Pequena Alma aprendeu o que é sentir-se triste.
Mas, nesse instante, uma Alma Amiga destacou-se da multidão e disse:
- Não se preocupe, Pequena Alma, eu vou ajudar-la - disse a Alma Amiga.
- Vai? - a Pequena Alma animou-se. - Mas o que é que você pode fazer?
- Ora, posso dar-lhe alguém a quem perdoar!
- Pode?
- Claro! - disse a Alma Amiga alegremente. - Posso entrar na sua próxima vida física e fazer qualquer coisa para você perdoar.
- Mas porquê? Porque é que faria isso? - perguntou a Pequena Alma. - Você, que é um ser tão absolutamente perfeito! Você, que vibra a uma velocidade tão rápida a ponto de criar uma Luz de tal forma brilhante que mal posso olhar para você! O que é que a levaria a diminuir a sua vibração para uma velocidade tal que tornasse a sua Luz brilhante numa luz escura e embaçada? O que é que levaria você, que dança sobre as estrelas e se move pelo Reino à velocidade do pensamento, a entrar na minha vida e a se tornar tão pesada a ponto de fazer algo de mal?
- É simples - disse a Alma Amiga. - Faço porque te amo.

A Pequena Alma pareceu surpreendida com a resposta.
- Não fique tão espantada - disse a Alma Amiga - você fez o mesmo por mim. Não se lembra? Ah, nós já dançamos juntas, você e eu, muitas vezes. Dançamos ao longo das eternidades e através de todas as épocas. Brincámos juntas através de todo o tempo e em muitos lugares. Só que você não se lembra. Ambas, já fomos o Todo. Fomos o Alto e o Baixo, a Esquerda e a Direita. Fomos o Aqui e o Ali, o Agora e o Depois. Fomos o Masculino e o Feminino, o Bom e o Mau - ambas fomos a vítima e o vilão. Encontramo-nos muitas vezes, você e eu; cada uma trazendo à outra a oportunidade exata e perfeita para Expressar e Experimentar Quem Realmente Somos.
- E assim, - a Alma Amiga explicou mais um bocadinho - eu vou entrar na sua próxima vida física e ser a "má" desta vez. Vou fazer alguma coisa terrível, e então você pode experimentar-se como Aquela Que Perdoa.
- Mas o que é que vai fazer que seja assim tão terrível? - perguntou a Pequena Alma, um pouco nervosa.
- Oh, haveremos de pensar em alguma coisa - respondeu a Alma Amiga, piscando o olho.

Então a Alma Amiga pareceu ficar séria, disse numa voz mais calma:
- Mas tem razão acerca de uma coisa, sabe?
- Sobre o quê? - perguntou a Pequena Alma.
- Eu vou ter de abrandar a minha vibração e tornar-me muito pesada para fazer esta coisa não-muito-boa. Vou ter de fingir ser uma coisa muito diferente de mim. E por isso, só te peço um favor em troca.
- Oh, qualquer coisa, o que você quiser! - exclamou a Pequena Alma e começou a dançar e a cantar: - Eu vou poder perdoar, eu vou poder perdoar!
Então a Pequena Alma viu que a Alma Amiga estava muito quieta.
- O que é? - perguntou a Pequena Alma. - O que é que eu posso fazer por você? É um anjo por estar disposta a fazer isto por mim!
- Claro que esta Alma Amiga é um anjo! - Interrompeu Deus, - são todas! Lembre-se sempre: Não te enviei senão anjos.
E então a Pequena Alma quis mais do que nunca satisfazer o pedido da Alma Amiga.
- O que é que posso fazer por você? - perguntou novamente a Pequena Alma.
- No momento em que eu te atacar e atingir, - respondeu a Alma Amiga - no momento em que eu te fizer a pior coisa que possa imaginar, nesse preciso momento...
- Sim? - Interrompeu a Pequena Alma - Sim?
A Alma Amiga ficou ainda mais quieta.
- Lembre-se de Quem Realmente Sou.
- Oh, não vou me esquecer! - Gritou a Pequena Alma - Prometo! Lembrar-me-ei sempre de você tal como a vejo aqui e agora.
- Que bom, - disse a Alma Amiga - porque, sabe, eu vou estar fingindo tanto, que eu própria vou esquecer-me. E se você não se lembrar de mim tal como eu sou realmente posso também não me lembrar durante muito tempo. E se eu me esquecer de Quem Sou, você pode esquecer de Quem É e ficaremos as duas perdidas. Então, vamos precisar que venha outra alma para lembrar às duas Quem Somos.
- Não vamos, não! - Prometeu outra vez a Pequena Alma. - Eu vou lembrar-me de você! E vou agradecer-la por esta dádiva - a oportunidade que me dá de me experimentar como Quem Eu Sou.

E assim o acordo foi feito. E a Pequena Alma avançou para uma nova vida, entusiasmada por ser a Luz, que era muito especial, e entusiasmada por ser aquela parte especial a que se chama Perdão.
E a Pequena Alma esperou ansiosamente pela oportunidade de se experimentar como Perdão e por agradecer a qualquer outra alma que o tornasse possível.
E, em todos os momentos dessa nova vida, sempre que uma nova alma aparecia em cena, quer essa nova alma trouxesse alegria ou tristeza - principalmente se trouxesse tristeza - a Pequena Alma pensava no que Deus lhe tinha dito.
Lembra-te sempre - Deus aqui tinha sorrido!
Não te enviei senão anjos”

 

 
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